quarta-feira, 25 de julho de 2018

O que é, Realmente... Tantra? - Sri Amrtanandaji R.



Tantra



Do blog , www.tantraechakras.blogspot.com
por Sri Amrtanandaji R.

Tantra é a mais antiga e mais técnica forma e caminho de despertar a energia interior e a consciência. 

O Tantra se originou antes dos Vedas e foi incorporado a cultura védica quando os Aryas migraram para a India e se estabeleceram entre os Drávidas na antiga cultura Drávida de Harapa e Mohenjo Dharo no vale do rio hindu.

O Tantra foi e é um método secreto praticado junto e paralelamente a religião e pratica ortodoxa hindu e budista, é um conjunto de técnicas cientificas que visam despertar o poder e a consciência humana para os estados mais elevados de consciência e poderes psíquicos, essa ciência foi suprimida em vários momentos e bastante perseguidas por certos grupos que quiseram retirar esse poder e conhecimento da humanidade.

O Tantra é baseado no entendimento dos poderes psíquicos da mente e nos estados alterados de êxtase, chamados samadhí que a mente pode atingir, os meios para atingir esse êxtase e poderes da mente é a base do tantra, más para entender melhor esse assunto vamos tentar entender o que é, e o que não é o tantra.

Enquanto uma parte do pensamento Indiano védico propôs que o caminho do desenvolvimento espiritual só poderia acontecer pela via da ascese, renuncia ao mundo e yoga baseada em austeridades o caminho do tantra sugeriu que qualquer pessoa casada, solteira, celibatário ou chefe de família poderia atingir o desenvolvimento interno dos poderes psíquicos e estados elevados de consciência, e do ser independendo dos seus hábitos culturais e alimentares desde que tenha um conhecimento superior como atingir isso.

Assim a partir dos vedas, se dividiu o pensamento do caminho da austeridade e renuncia baseado em sanyas e yoga, e o conhecimento do tantra baseado em bhukti ( gozo ) e mukti, liberação. O caminho do tantra via sendo possíveil de atingir a meta da liberação ( mukti, moksha, nirvana ) sem estar separado da vida cotidiana ( bhukti, bhoga, gozo ). Enquanto o caminho da renuncia em muitos locais do mundo via a sexualidade, prazeres, alimentação, vida familiar como contraria a iluminação. 

Nessa via tântrica, se via tudo na vida como a expressão da energia divina que poderia ser canalizada para a própria iluminação se direcionada sabiamante com o conhecimento correto e entendimento profundo.
Tantra

A palavra tantra vem de dois termos sânscritos, Tayoti e trayati, que significa liberar e expandir, Tantra significa a liberação da energia a a expansão da mente, para o tantra não existe separação entre corpo e mente, espirito e matéria ou seja, não é um caminho de repressão do corpo e da sensoriariedade, más um caminho onde se procura libertar a energia através da mente, e a mente através da energia, expandindo através da pratica ( sadhana ) e do conhecimento (jnana ) Shakti e Shiva, energia e consciência.

Nossa mente e corpo são condicionados e condicionadores de nossa experiência e consciência, a mente condicionada aos sentidos, o corpo a mente limitada por isso impedem uma percepção mais profunda no estado comum de virgilia e assim ficamos restritos pelas crenças, pensamentos, sentimentos, desejos e limitações corporais esses condicionamentos são a causa de um estado de limitação, sofrimento ( dhuka ).

Para experimentar outros níveis de consciência, outros níveis de percepção e realidade mais sutis e outros níveis de experiência interior é necessário ampliar os poderes da mente e a sensibilidade energética, isso se chama siddhi, perfeição ou poder na linguagem yogi , védica e tântrica, o que nos leva aos vários níveis de estado de expansão chamados de samadhí, integração da consciência.

O Tantra possui vários tipos de técnicas, disciplinas e estágios para vários tipos de praticantes, tanto o renunciante como o chefe de família ou pessoa comum, assim, o tantra pode usar ou não elementos que em caminhos espirituais ortodoxos, tradicionais ou mais voltados para a renuncia são proibidos como vinho, carne, peixe, e sexo ritual, isso foi e é muito mal compreendido no ocidente e deturpado pelos ocidentais e escritores do assunto que não entendem muito bem e acabam focando apenas no aspecto sexual, achando que tantra se trata apenas de sexo o que, isoladamente, é um grande equivoco.

O Tantra engloba essencialmente o conceito de Shiva e Shakti, nesse conceito a Fonte, o brahmam, a origem do universo como consciência se divide em um principio criativo feminino e um principio de consciência masculino, polaridades, o principio feminino é a essência, o centro da tradição tântrica, esse principio é chamado de Shaktí, assim, o Tantra é uma forma de culto a divindade Feminina, a Deusa Mãe, a Mãe Divina e ao divino masculino.

Esse culto tem um aspecto ritual externo, devocional, com rituais, mantras, culto, rituais de fogo e praticas rituais para se atingir diversos resultados externos ou internos e o aspecto interior, relacionado a fusão ou despertar dos aspectos divinos masculinos e femininos em nossa natureza. 

Nesse sentido a energia sexual, o vinho, e todos os elementos sensoriais como perfume, cores, flores, incenso, fogo são usados para se interiorizar e integrar esses fatores em nossa própria estrutra energética e consciência para o despertar dos centros superiores de consciência, os chakras e seus poderes latentes.

O Tantra abrange uma grande diversidade de praticas e e crenças más não existe antagonismo nenhum entre elas, ao contrario, não existe contradição no tantra por que ele aceita totalmente a totalidade da experiência humana e dá meios para se praticar um caminho espiritual adequado a cada estagio do praticante.

O Tantra original está contido em duas bases muito bem estruturadas e seguras : a tradição oral e linhagem de gurus e mestres, chamada parampara e sampradaya, onde os ensinamentos tântricos são transmitidos oralmente ao longo de séculos, pois o Tantra é uma tradição íniciatica viva, praticada ainda hoje na India por milhares de pessoas, porem é uma tradição muitas vezes secreta, fechada para iniciados que apenas busquem iniciação.

A outra base do tantra é a escritura, shastra, para que fosse preservado o Tantra foi colocado parcialmente em 64 escrituras, livros, que foram escritos em sânscrito na Índia principalmente no sec. VIII a XII afim de ter uma base escritural para esse conhecimento, porem grande parte do conhecimento escritural do tantra é uma base das praticas que não ensina a totalidade da tradição, apenas serve para referencia teórica, referencia pratica e filosófica, sendo que a essência fica a cargo da tradição oral, transmitida por iniciação, o mesmo vale para o tantra budista que tem as mesmas características, passado via iniciação e com escrutras, cerca de 108 tantras.

Esses textos são chamados de Tantras, alguns bem importantes como o Mahanirvana Tantra, Kulanarva Tantra, Ghandarva Tantra, e existem textos de outras tradições que tem grande influencia direta ou indireta do tantra como os textos de Hatha Yoga, Hatha Yoga pradipika. No budismo tântrico existem cerca de 108 tantras chamados de tantras sutras, dizer que o tantra não tem escritura nem esta contidos em livros e não possui tradição mais apenas espontaneidade seria como dizer que um engenheiro, um médico, um bailarino não precisasse de técnicas, estudo, pratica ou professores para se formar, para ser bom no que faz.

Um bailarino, um médico, um engenheiro podem ser muitos criativos, espontâneos, naturais e livres em seu trabalho e atividades, más com conhecimento e domínio de suas especialidades, é com essa base que eles podem fazer isso sem ferir ninguém, sem ser irresponsáveis, pensar de outra maneira é loucura ou pode demonstrar má intenção em vender o tantra como uma farsa, uma mercadoria rasa, um fetiche.



O tantra não é uma pratica estática, engloba um grande numero de técnicas como mantras, visualizações, culto a Shakti na forma de Deusas, yoga, respiração, conexão com o Self ou Eu Superior , é um estilo de vida onde a energia criativa do mundo , Shaktí é aceita em sua totalidade como uma expressão da energia divina. 

O Tantra é simples? Sim! Más é simples quando se o domina, assim como é simples dançar para uma bailarina que treinou por décadas, más pode ser desastroso para um leigo que não tem técnica, estudo algum, ou pra um musico tocar violino magistralmente é algo totalmente natural, más um leigo faria apenas um barulho irritante e desagradável a todos.
O Tantra ganhou no ocidente a reputação de magia sexual massagem erótica para atingir o orgasmo, yoga sexual, isso foi uma grande distorção e deturpação que ocorreu devido ao contato superficial do ocidente com a Índia e a tradição , onde pegaram um aspecto isolado do tantra, o uso da sexualidade ritual para a conexão entre o sagrado feminino e sagrado masculino e separaram do todo, dos mantras, da filosofia, dos ritos, do uso da energia sexual para a purificação dos canais energéticos e a fusão das energias masculinas e femininas, seja interiormente ou também na união mística com o parceiro tântrico para atingir a iluminação, o samadhi, o êxtase místico da expansão da consciência.

Alguns escritores ocidentais citam Reich ou Jung para falar de tantra e, bem, esses autores são importantíssimos em suas áreas de atuação, estudaram e compreenderam alguns aspectos essenciais do saber tantrico mas não podem ser usados como base de referência, e sim como estudo comparado dessa tradição espiritual que eles buscaram seriamente.

O Tantra se mesclou com os vedas e manteve a cultura védica de mantras e Yajnas.

Yajna significa sacrifício e os brahmanes védicos faziam sacrifícios diante do fogo sagrado para várias divindades para obter vários resultados, materiais e espirituais onde através do fogo e sacrifícios se conectavam com o universo e o todo representados pelos vários Devas, deuses, planetas, e a Fonte de tudo através dos mantrans, o tantra assim acima de tudo se tornou uma ciência dos mantrans.

Ver o texto sobre mantras aqui no blog.


Dessa forma o tantra ficou dividido em vários caminhos, onde se originou :

O Tantra védico, de Yajna que é praticado ainda hoje como a parte esotérica de karmakanda, rituais de fogo na forma de Yajnãs.

O Tantra shaiva, Shivaista onde o culto a suprema consciência na forma de Shiva absorveu a ideia de renuncia e trouxe para o tantra apenas a parte do Yoga, com praticas, sadhanas , mais austeros ligados ao despertar da energia com mantras, yoga, kundalini yoga, más com o abandono da parte do vinho, sexo, etc em suas disciplinas, nessa escolas estão os aghoris, kapalikas, shaivismo da kashemira.

O tantra Shakta que evoluiu como forma do culto original da Grande Mãe, Shakti e preservou o uso da sexualidade, bebida sagrada ou vinho purificado e outros elementos como carne, peixe, grãos, e permitia uma vida normal de dono de casa aliada a vida espiritual, onde está o vama e o kaula tantra.

Essas divisões foram chamadas posteriormente de Dakshina Tantra e Vama Tantra, Dakshina quer dizer direita e diz respeito ao aspecto Shaiva do tantra com ênfase na renuncia, depois também alguns Shaktas, devotos da Deusa aceitaram essa forma de Tantra.

E Vama que quer dizer esquerda, onde por esquerda se entende a participação ativa da esposa, Shakti do iniciado que seria o tantra Shakta original com o uso dos mantras védicos , yajnas na forma de rituais com sexualidade, vinho, etc.

Essas três divisões existem ainda hoje, e finalmente tem sua essência no tantra Kaula , que é a união ou o conjunto do Dakshina e Vama tantra.

 Assim, tradicionalmente para o Tantra os caminhos espirituais do hinduísmo foram divididos em sete vias que possuem influencia do Tantra ou são ramos do tantra :



O primeiro é o chamado brahmanismo ortodoxo, o karmakanda ou karma yoga onde se segue estritamente o ritual e preceitos védicos, como já falamos, o sacrifício do Yajnã.

O segundo é o Vaishnavismo ou bhakti, o caminho devocional que usa mantras e alguns preceitos tântricos mas perdeu a parte esotérica do tantra ou yoga tântrico, e o terceiro é o Shaivismo ou culto a Shiva que possui a parte do Yoga más é um caminho com estrito moralismo e renuncia que acaba se afastando do tantra original, esses caminhos possuem elementos tântricos em suas tradições más não tem o tantra como base pratica.

Por essa razão esses caminhos são mais adequados para quem está em pavitri ou precisa regular suas ações mundanas pela restrição no mundo, más permanecem atados , pashus, na linguagem dos Tantras.

O Quarto caminho é o que explicamos acima, Dakshina tantra que é a parte do tantra com elementos devocionais, elementos de Jnãna, filosofia védica e a parte dos mantras, yoga, yantras más que não usa a sexualidade tântrica nem o consumo de vinho, carne, peixe e grãos em seus ritos, chamados panchamakar, cinco Ms. Nesse caminho o tântrico tem sua base de praticas sendo mais voltado para a renuncia e auteridade.

O quinto é o Vama marga, ou caminho da esquerda onde inicia o processo de nivriti, retorno, ou seja, o praticante ou sadhana como é dito transmuta todos os elementos que o atam ( pashu ) a esse mundo físico e inicia um caminho de subida da kundalini onde sexo, bebidas, vida mundana é transmutado para cima pelos cakras ou centros superiores na fusão da energia divina, kundalini com a consciência suprema, Shiva.

Dakshina marga e Vama marga não devem ser confundidos com licenciamento ou erotismo vulgar, ou uso indiscriminado do sexo e bebidas, é o inicio do caminho de Vira, Herói ou seja, exige uma atitude heroica de desafio das paixões ao lidar com esses elementos pelo praticante que nesse estagio é chamado Vira Sadhaka.

O sexto é chamado Siddhanta ou caminho dos sidhas, Sidha significa aquele que dominou vários tipos de sadhana e atingiu a perfeição em seus sadhanas e o entendimento dos sadhanas buscando a realização dos estágios e estados de consciência ensinados nos caminhos anteriores, atingindo o siddhi, a perfeição ou poderes outorgados por esses caminhos.


E finalmente o Kaula, o mais secreto e mais proeminente dos caminhos do tantra pois envolve todos os caminhos acima em sua essência mantendo a pureza original dos ensinamentos tântricos sobre o uso tanto dos rituais externos quanto internos com a maturidade e profundidade das praticas de Dakshina, Vama , bhakti e jnana com o uso tantra de técnicas como mantra como da profundidade da filosofia que baseia os tantras.


“beber vinho, comer carne, estar junto a pessoa amada, nenhum desses atos conduz a realização do estado supremo” Kulanarva Tantra, verso 112, capitulo II.

Esse verso revela como, por sí só, não é o sexo, o vinho, o ritual que leva ao estado, más o uso espiritualizado e a forma como isso é revertido de um ato externo, mundano, profano, para um ato de sublimação, transmutação alquímica.

Kaula signfica Kula e Akula, Kula é familia, grupo , clã, o Kaula são as disciplinas tantricas que tanto sao realizadas no lar e comunidade do sadhaka, Kula, como a renuncia interior e a busca a liberação total do mundo, Akula.

O Tantra é filosofia?

Não, principalmente no sentido grego do termo de procurar um arqué, a causa do mundo e das coisas, porém como todo conhecimento espiritual mesmo aceitando totalmente a sensoriariedade, o corpo, o mundo como ele é o tantra tem sim uma base filosófica tanto no hinduísmo , quando é o tantra hindu, como no budismo, quando é o tantra budista, e influenciou também outras religiões com base filosófica como o taoísmo chinês e o budismo chinês e japonês. 

O tantra possui dezenas de textos oficiais como foi dito e podem ser encontrados facilmente em ótimas publicações em inglês e português que fazem referencias as filosofias que baseiam e norteiam todas as praticas do tantra como o vedanta advaita que é a filosofia não dualista dos vedas, o nyaya, a lógica védica, o Sankhya que é a filosofia que explica a natureza da realidade e outras. Assim como as varias correntes filosóficas budistas, vajrayana, hinayana, mahayana.


Um dos maiores expoentes e escritores sobre o tantra foi o inglês Artur Avalon, sir Jhon Woodofre, ele foi juiz em Calcutá no século 19 e conheceu o tantra hindu, acabou estudando o tantra , o saânskrito e se apaixonando, após se iniciar na tradição ele traduziu e escreveu com proeficiencia e base muitos livros sobre o tantra original hindu e transcreveu varios tantras originais em sanscrito, se tornando o maior escritor na área no ocidente a expor o tantra como ele é na India, transcrevendo a maioria dos textos, traduzindo o Mahanirvana Tantra e comentando inúmeros aspectos do tantra de forma que posso afirmar que se um ocidental quer conhecer o tantra hindu obrigatoriamente deve ler Artur Avalon.




O Tantra é religião?

A sexualidade, os prazeres sempre foram um problema pra humanidade desde o inicio, devido a isso muitas religiões ensinaram que a renuncia ao sexo e ao prazer era o caminho para iluminação, suprimindo a sexualidade humana, criando um moralismo, outras religiões foram mais longe na repressão e tornaram varias expressões sexuais crimes com punição e controlaram através desses meios o corpo e mente das pessoas a serviço do estado, e assim essa escolha se tornou generalizada para resolver o problema da sexualidade e espiritualidade, separando-as, más como a sexualidade é um impulso mais poderoso que a mente, essa regra serviu apenas para um pequeno grupo geralmente mais idoso, sendo muito prejudicial para outras minorias, especialmente jovens e mulheres.

O que o tantra propôs foi que a vida sexual não é impedimento para a vida sexual, você pode escolher ser celibatário e renunciar a isso para atingir os estados mais altos de iluminação, más também pode escolher ter uma vida de sexualidade ativa e atingir os estados mais altos segundo o tantra, a vida sexual não seria impedimento, e sim poderia ser usada se corretamente canalizada através do conhecimento apropriado fornecido pelo tantra, para essas duas situações foram criados a divisão entre Vama marga e Dakshina marga.

Os caminhos apresentados acima dos Vaishnavas, Shaivas, brahmanismo ortodoxo, bem como outros caminhos que pregam a renuncia como via e a ascese como meio para a iluminação como as religiões do ocidente também o cristianismo, judaísmo, islamismo que pregam o controle da vida sexual e colocam um conceito de tabu, pecado, culpa e separação entre sexo e espiritualidade.

O vedanta, o jnana é uma filosofia sublime e profunda em seu aspecto teórico más é seriamente focada no pessimismo e negação do mundo como outras no ocidente o são, o tantra compreende que a união entre Shiva e Shakti, não apenas o aspecto homem/mulher, más o aspecto energia e consciência dentro de nós, e também no sentido cósmico, assim o tantra procura uma integração entre homem/mulher, positivo/negativo dentro de nós, Shiva/Shaktí cósmico através das meditações tântricas integrando todos esses aspectos.

Mesmo assim, compreendendo isso podemos dizer que não se pode separar totalmente o tantra dos caminhos religiosos que o acolheram, o tantra se misturou totalmente a essas tradições e foi assim que foi preservado, se existiu algo antes fora do contexto espiritual das religiões que acolheram, isso se perdeu assim como se perdeu a biblioteca de Alexandria e não se faz ideia de que livros ela continha, assim como não se faz ideia de como seria o tantra em sua fase xamânica, anterior aos vedas e ao budismo, existe uma mentalidade moderna de que se deve separar o tantra das religiões, isso é apenas uma ideia preconceituosa pois seria como separar o karatê do japão, ou o kung fu da china, a alquimia da idade média ou seja, esses conhecimentos estão mesclado de tal maneira a sua cultura que tentar filtrar totalmente isso pode levar ao risco de uma seria deturpação, e é o que temos visto no ocidente.

Na verdade essa tentativa ocorreu e assim nasceu o chamado Neo Tantra, bem, isso pode parecer positivo já que que na idade moderna surgiu o Neopaganismo, que é um movimento autentico de trazer de volta o paganismo antigo que foi apagado da Europa pelo cristianismo Romano, isso é bem valido e tem várias correntes que buscaram ressuscitar as praticas e costumes das religiões antigas da Deusa, inclusive a wicca faz parte desse movimento, no entanto para trazer algo que foi morto a vida esse algo precisa estar morto, isso valeu para o paganismo Europeu, só que não é o caso do Tantra que continua existindo na India, Tibet, Nepal, e mantem acesa sua tradição discretamente nos textos tântricos ainda existentes, gurus e templos.

O que o ocidente fez na verdade foi uma leitura mais superficial do tantra, ao entender que ele havia  influenciado totalmente o pensamento místico de quase todo o oriente, o Taoismo, A alquimia, os Arabes, a Magia, muitos autores modernos como Crowley por exemplo escreveram a sua visão pessoal do tantra e até praticaram algumas disciplinas, um grande problema disso foi algumas mesclas não muito sólidas como misturar tantra com cristianismo, tantra com kabalah, ou colocar no vama tantra elementos do satanismo ocidental que logicamente não existe na India. Essa mistura é a causa de muita confusão.

Essa tendência não é de hoje e faz tempo que os Illuminatis, certas elites de algumas sociedades secretas tem usado sua própria versão do tantra , principalmente o Vama tantra para tentar atingir certos poderes sem ter em conta a totalidade da filosofia que embasa o tantra, seus aspectos positivos e suas verdadeiras bases.

Na America latina um escritor chamado Samael Aum Weor fabricou sua própria versão do tantra ressaltando o controle ejaculatório como único aspecto pratico do tantra, misturando isso com o conceito judaico-cristão de pecado e culpa, e fazendo usa própria interpretação dos textos gnósticos, essa confusão toda pode ser melhor entendida nesse texto de um ex-gnostico Samaelita :

http://resistenciaamatrix.blogspot.com/2017/03/historia-das-sociedades-secretas-i.html

Essas mistura causaram grande confusão espiritual e prejuízos espirituais com sérios danos na mente dos seguidores dessas misturas indigestas, que tentavam convencer seus adeptos a usar a energia sexual para a destruição do próprio ego, condenava o orgasmo, a masturbação, a ejaculação, e qualquer forma de desejo numa interpretação  puritana que não tem nada haver com o tantra original,  que é um caminho de integração, aceitação, e onde o orgasmo feminino é visto como parte fundamental dos aspectos sexuais.

Por outro lado, um outro Mestre que tentou, de forma mais positiva e bem sucedida pelo menos na medida que a época e momento permitiam expor o Tantra ao ocidente foi Baghawan Rajnesh, chamado hoje Osho. Osho se formou em filosofia na India más não seguiu ou se iniciou em nenhum dos sete caminhos ou dharmas citados a cima que tinham uma base tântrica como iniciado, ao invés disso ele se especializou em escrever sobre o dialogo possível entre o ocidente e oriente, de forma muito bela e livre, de acordo com sua própria compreensão.



Nos anos setenta em plena revolução sexual isso agradou muito aos ocidentais que iam a Índia e não conseguiam entender muito bem os caminhos mais tradicionais, com Osho eles encontram o guru que procuravam, que lhes daria as bênçãos da libertação sexual sem culpa espiritual, curando suas emoções de culpa e repressão vividas no ocidente.

Com isso Osho foi rejeitado pelas escolas Hindus ortodoxas justamente por ele as ter rejeitado também, más foi abraçado pelo ocidente, ele então escreveu o livro Tantra a suprema compreensão onde analisa uma canção budista tântrica, do tantra budista chamado a canção de maha mudrá de Tilopa. ( tantra budista )

Nesse livro Osho fala sobre a questão da espontaneidade, do orgasmo como função um caminho de integração espiritual, da questão da não-mente no sexo e do êxtase espiritual no ato sexual dando bases para uma cura emocional importante para o ocidente, más sem aprofundar nos aspectos mais práticos, técnicos, secretos e filosóficos do Tantra, isso é totalmente compreensível dada a época que ele viveu, e o extremo estress que experimentou na comunidade deles nos Eua, onde foram perseguidos por puritanos, conservadores, religiosos, deixando claro que ele podia falar até certo ponto, embora o que falou foi muito pra época.

No livro Tantra, espiritualidade e sexo Osho coloca uma questão básica sobre o Tantra : a oposição entre tantra e Yoga, o Yoga clássico é um caminho de restrição, de controle, de luta contra a mente e de supressão, Osho explica como o tantra é oposto e propõe a aceitação total da mente, do desejo , do sexo e esse é um aspecto fundamental do Tantra que Osho trouxe para o ocidente em sua ótima escrita, faltou a esse livro explicar que existe o Yoga tântrico, onde a restrição não é observada como no yoga clássico ou vedanta.

Uma das definições que Osho dá sobre o Tantra é um caminho tradicional que é totalmente não tradicional, isso é um fato pois  inclusive foi marginalizado pela ortodoxia hindu, devido a ser liberal isso foi colocado como uma pratica para pessoas inferiores, por puro preconceito, devido a influencia tanto do brahmanismo ortodoxo com sua tendência a renuncia como pela influencia patriarcal do cristianismo colonial, do islamismo dominador, que acabou perseguindo fortemente, e violentamente esses ensinamentos na Índia.

Osho escreveu sobre o aspecto sexual do Tantra e a liberação da mente, ele cometeu alguns erros em seus textos ao falar por exemplo que o mantra é uma forma de auto-hipnose, quando na verdade é ao contrario, o mantra é uma parte essencial do tantra e protege a mente da dualidade do pensamento, por isso devemos entender Osho dentro de seu contexto social, muito complexo onde os conflitos com os Eua acabaram o levando a prisão, depressão e morte, onde assessorado por uma secretaria que preferia brigar contra o sistema, a Sheela, e uma condução acirrada desses conflitos o que resultou num drama onde seus escritos foram flores de lótus no meio de um grande pantano.

Os discípulos de Osho, hoje principalmente estão mais livres e poderiam procurar se aprofundar no tantra, já que o mestre não pode fazer isso na sua época, no entanto é muito comum acontecer o contrario, muitos discípulos do Osho pregam o ensinamento de Osho sobre tantra, más rejeitam novamente qualquer estudo aprofundado do tantra hindu, do sânscrito, dos mantras, é engraçado como algo tao belo o profundo seja tão querido na parte sexual, e tão rejeitado em sua totalidade.






Shiva e Shakti

O principal conceito do Tantra é sem duvida Shiva e Shakti, os tântricos são os adoradores da Shaktí, a energia criadora do universo, Ela é chamada também de Mahamaya, grande maya, maya é ilusão, a ilusão do mundo manifesto, material, a natureza é chamada no samkhya de prakrití, Maya não é a natureza em sí, más a energia criadora de toda a natureza.

Shiva é pura consciência, é a totalidade da consciência cósmica em manifestação, que também se torna Vishnu e Brahma, na visão tântrica. Ele é a metade passiva, aquele que é consciente enquanto a Shakti é dinâmica.
A Shaktí é representada por uma Deusa, Ela é a egrégora ou forma da Shaktí, más a Shaktí é dita em todos os Tantras como sendo a energia suprema contida em tudo, em cada ser, nos cinco elementos, na criação, e dentro de nós como a energia espiritual dinâmica adormecida, Kundaliní.

            Isso não se trata sobre genero ou orientação sexual, más como polaridades e arquetipos de Mãe e Pai, Feminino e Masculinos divinos, temos em nós mesmos as energias masculinas e femininas, e as polaridades de Shiva e Shakti pois temos a kundaliní adormecida como Shaktí, e a Consciência total adormecida como Shiva, podemos integrar isso externamente através da sexualidade ritual tântrica onde a Shaktí é representada pela mulher e Shiva pelo homem no ato sexual tântrico.

            Nos ensinos tântricos a Fonte de tudo é, que no vedanta é chamada Brahmam é colocada como Paramashiva, o Shiva supremo. Esse se manifesta em dois aspectos, Shiva e Shaktí, que são origem a Shiva, Vishnu, e Brahma, os aspectos mantenedores, criativos e destrutidos do universo.

            Dessa fonte surge uma “descida da consciência “ para a criação dos universos, onde a grande consciência se manifesta em várias dimensões de escala vibratória, para casa dimensão dessas, um aspecto da existência de cada ser sensciente também tem seu correspondente.

Na concepção tântrica a Fonte é chamadade Paramashiva que é o  Brahmam – Absoluto, do vedanta, depois vem :

Shiva – Shaktí – divinos criadores
Ishvara – Vishnu –Shiva – Brahma ( os três gunas, conservação, destruição, criação )
Maya – A criação
Purusha – Prakriti – a energia criadora do jogo da consciência e energia
Atman – Budhi – Manas ( Ser, Consciência individual fragmentada, Mente )
Prakriti – os cinco elementos e as dimensões materiais.
Para entender melhor esse jogo da descida, podemos dividir as dimensões da criação em sete, olhando esse gráfico :



Nesse gráfico podemos ver melhor a escala da criação em sete dimensões e sub-dimensões, os Tantras expuseram isso e outras escolas de pensamento védico também, o mais importante é entender que na compreensão do Tantra o mundo material é apenas um dos planos, chamados Lokas ou mundos, e cada um desses tem um nível de energia e consciência correspondente, bem como um corpo, um kosha correspondente, Esse grafico faz uma leitura baseada na Teosofia, que estudou esses aspectos da filosofia védica sobre os planos de existência.

Para entender melhor :

Mundo físico – bhur loka – terra – corpo físico – terceira dimensão – Annamayakosha ( corpo feito de alimentos -  1 chakra.

Mundo eterico – Bhur loka – corpo de prana, corpo eterico, plasma – quarta dimensão – 2 chakra – pranamayakosha ( corpo feito de prana )

Mundo astral – Bhurvar loka – plano emocional – corpo astral – 3 chakra – quarta dimensão – manomayakosha ( corpo dos desejos, kama rupa, manas é mente aqui entendido como parte emotiva da mente )

Mundo mental – Bhurvar loka – corpo mental – 4 e 5 chakra – quinta dimensão – Manomayakosha – Corpo mental. – Manas -  O mundo dos pensamentos.

Mundo causal – Svah – Plano real de existência Budhi – sexta dimensão

Mundo Atmico – Tat – plano espiritual de existência – sétima dimensão – o Ser, o Eu Sou, o Atman, nossa Verdadeira natureza. 

Assim, a consciência suprema manifesta tudo o que existe e todas as consciências e mundos no jogo, Lilá , da criação.



Chega um momento em que a consciência individualizada pode escolher por varias razões sair desse jogo do mundo, Maya e do ciclo de reencarnações, nascimento e morte, Samsara e buscar seu retorno a Fonte, a Origem, o Brahmam.

Ai começa sua busca a partir dos quatro propósitos da vida, Artha ( riqueza ) Kama (prazer ) Dharma ( virtude ) e Moksha ( liberação )

O Caminho da renuncia, tyaga ou sanyas pela via de austeridade ( Tapas ) e desapego do corpo é a proposto do Vedanta e as vezes de forma mais exagerada de outros caminhos espirituais do passado.

O tantra possibilita ou pensa o caminho de Moksha sem rejeitar kama, artha como sendo seu dharma, sua virtude, isso não quer dizer que rejeite o vedanta, apenas o compreende sobre outra perspectiva, na verdade provavelmente a perspectiva original.


Moksha é principalmente o reconhecimento de forma totalmente consciente, não apenas teórico de nossa verdadeira natureza, que é igual a natureza de Shiva, ou do Brahman, a Fonte. 


Essa natureza é SatchitAnanda, Sat... Verdade. Chit, consciência pura, Ananda, pura alegria e bem-aventurança, a meta dos Tantras é realizar isso, assim como a meta dos Vedas e do vedanta, dois caminhos pra um mesmo estado supremo. 


O Tântrico adora sua Shaktí como a Deusa, e nesse momento ela É a Deusa, não simbolicamente, não metaforicamente, más Realmente... conscientemente, em pleno gozo e bem aventurança.


Para isso o recurso mais usado pelo Tantra é o uso meditativo e ritual do mantra.

Mantra e Yantra

Mantra deriva de dois termos sânscritos, Manas e traya , mente e proteção, aquilo que protege a mente. O ser humano, a entidade viva humana é composto por alma ou espirito, mente e corpo. Atman, manas, e sharira, o corpo ou os corpos físico, eterico, astral, e mental e acima disso nossa parte espiritual de atman, budhi e manas, espirito, consciência e mente. Essa constituição é representada pelo Sol que é nossa conexão e fonte do espirito, a lua que nos simboliza a mente consciente e inconsciente, e a terra que representa o corpo físico, energético ( etérico ) e astral.


Um mantra é composto por um conjunto de fonemas, letras que formam um som que atua na mente e cria uma vibração, um vórtice, um campo vibratório que atua em todas as outras dimensões citadas acima, protegendo e dirigindo a energia da mente para um propósito que está contido no mantra. As escrituras antigas dizem que o mundo manifesto se origina da palavra ( vac ) da divindade, dos Devas ou de Deus, o verbo, e do imanifesto tudo se torna manifesto através do som, que é vibração.


Os Yantras são a forma geométrica dos mantras, usando geometria sagrada para representar a forma geométrica e conjunto de forças do mantras , potencializa o poder do mantra, as meditações, os rituais e as forças de manifestação que o mantra envolve em seus objetivos.

 Em nossa representação energética isso está representado pela descida da energia pelo Om, no ultimo chackra da cabeça, sahashara até a base da coluna, no mooladhara chackra, essa descida da energia representa a descida de Brahman, Visnhu e Shiva até o plano físico no mooladhara, com Ganesha, que é o Senhor das multidões de energias distintas no mundo dos sentidos. Esses sons que descem pelo nosso corpo representando a manifestação de nosso corpo e também do mundo acontece com a manifestação ou descida ( savitri ) das letras sonoras pelos sete chackras Sahashara no topo da cabeça, Ajnã na testa, Vishuddhi na garganta, Anahata no coração, Manipura no umbigo, Swadhistana nos genitais e Mooladhara na base da coluna.

Essa é a representação no nosso microcosmo, corpo, de toda a manifestação no macrocosmo, Mundo.


Os Rishís através dos vedas compilaram os mantras e os transmitiram a milênios atrás e existem milhares de mantras que são divididos em seis angas ou partes :

Seis partes de um mantra

Um mantra tem os seguintes seis partes:

1.Rishi , o vidente que revelou o mantra, que tinha auto-realização, pela primeira vez através deste mantra, e atingiu o propósito através desse mantra ( Siddhi ), o Rishí é o que deu este mantra para o mundo. Ele é o vidente para este mantra. Sábio Vishwamitra, por exemplo, é o rishi para o mantra Gayatri. 

2. Chanda, o tempo, a métrica e rima para o mantra, O mantra tem um medidor, que rege a inflexão da voz. 

3. Devata, a deidade, divindade associada ao mantra. Toda mantra tem uma forma divina que é a manifestação pessoal do Brahman nos planos espirituais e ajuda, abençoa e é invocado no mantra. O mantra tem um devata particular ou ser sobrenatural, maior ou menor, conforme o seu poder de informar. Este devata é a deidade do mantra. 

4. Bija. O mantra tem um bija ou semente. A semente é uma palavra significativa, ou série de palavras, o que dá um poder especial ao mantra.O bija é a essência do mantra. Os Bijas conferem mais poder ou força ao mantra ou associam ele a várias shaktis, energias espirituais, Hrim por exemplo é o bija da Deusa , Maya, ou Devi. Om é o bija do brahman, a semente de todos os mantras e pra onde todos os mantras retornam. ( A Fonte )


5.Shaktí.  Cada mantra tem um shakti. A shakti é a energia da forma do mantra, isto é, de forma que a vibração criada pelos seus sons. Estes levar o indivíduo à devata que é adorado. A Shaktí de um mantra é o poder inerente guardado dentro do mantra, que é formado pelo campo vibracional original do mantra, não podemos acessar de uma vez essa energia acumulada por séculos depois de repetição milenar. Acessamos essa Shaktí quando conseguimos acessar através da repetição que gera o calor interno ( tapas ) que é exigido pelo mantra, isso se consegue através de pratica constante ( Sadhana )

6. O mantra tem um kilaka pilar, ou pino. Este se conecta a chaitanya mantra, a consciência, que está escondido no mantra. Logo que o pino  é removido pela repetição constante e prolongada do nome, o chaitanya que está escondida é revelada. O devoto recebe darshan do devata ishta, a consciência do devata se comunica com o praticante (sadhaka ) e o favorece com seu propósito.

O propósito de um uma pessoa através do mantra é chamado de Sankalpa, ou resolução.

Através do mantra a pessoa acessa o arquétipo/egregora ou Ser divino como queira compreender contido na frequência sonoro do mantra, para o tantra nós somos Unos com o divino e por isso a ideia é uma conexão com uma parte maior de Si mesmo, do Sí Mesmo ou Atman ou seja, o Eu Sou contem tudo o que é inclusive todas as formas da divindade.

A Pratica do mantra acontece através da repetição com um mala ( rosário de 108 contas ) , ou através da conexão com a divindade através da cerimonia de fogo onde o mantra é usado ( homa, yajnã ), através de oferendas simples num pujá, ritual de oferendas, ou através das oferendas tântricas do panchamakar onde o ato sexual é uma delas, sendo que panchamakar significa cinco M’s, Mudrá ( grãos ) Mamsa ( carne ) Matsya ( peixe ) Madyam ( Vinho ) e Maithuna ( união sexual mística )

O panchamakara é a pratica principal do Tantra e muito mal compreendida, falaremos a seguir sobre isso, más primeiro vamos entender o papel da Shaktí nesse contexto do Tantra.


 Mahavidyas

A divindade nos vedas, nos tantras está em tudo e em todos os elementos, Shiva tem várias formas e expressões e Shaktí como energia suprema se manifesta também em vários estágios e estados de manifestação.
Existem dez grandes conhecimentos ou mantras chamados mahavidyas ( Maha = grande, Vidya=conhecimento ) que são formas e mantras da Deusa Mãe relacionado a vários aspectos da realidade tanto individual como suprema, esses aspectos são adorados e meditados pelos tântricos para acessar a consciência contida no nome e forma da Shaktí através dos usos, devidamente aprendidos com um guru qualificado no tantra, de seus respectivos mantras.

Kali 


Primeira deusa Hindu, a grande mãe do mundo que remove aflições e destrói as paixões e ignorância ( Avidya ) e controla a imutabilidade da duração do tempo. Deusa da Transformação Yogui – Representa a Grande Mãe do Mundo, a Primeira , Adya, das das 10 grandes deusas da sabedoria que são aspectos diferentes de Kali.

Kali em sânscrito significa escuro, tempo escuro, ou mal tempo, era da escuridão, etc. Tempo no aspecto feminino da palavra (o masculino é Kala).Sua natureza essencial é a eternidade, Kalí com o í acentuado significa o aspecto Feminino disso tudo no sentido que Ela remove , a escuridão.

Kalí é o aspecto guerreiro da Deusa Mãe, que luta contra a dualidade, que destrói as impurezas da consciência revelando nosso verdadeiro Self, Ser, natureza como Sat, Chit, Ananda, Verdade, Consciência, Bem Aventurança.

Bija Mantra Hrim
Bhakta Mantra : Om Krim Kalí Namah
 
Tara 


Tara traz o conhecimento, a sabedoria , é aquela que Salva e protege, guia, é a salvadora que nos ajuda a superar as situações difíceis, adorada tanto por hindus tântricos e shaktas como por budistas no mundo todo. É ligada aos campos de cremação, a agharta, as nagas ( serpentes ) e aos mundos espirituais, encruzilhadas e cemitérios.

Seu mantra bhakta budista é Om Tare Tutare Tara Swaha


Tripurasundari 


Deusa da natureza feminina dos três mundos, da beleza interior que transcende todas as formas e é eterna.A beleza da natureza feminina representa a forma , seu nome quer dizer a mais bela nas três cidades ou seja, nos três mundos ou planos de existência.divina.
Também representada pelo Sri Yantra.Em sânscrito sundari significa beleza. Ela é cultuada seriamente na tradição Sri Vidya do Tantra, ela é  representada pela lua como a imagem visível da beleza.


Bhuvaneshwari
Rainha dos mundos, senhora do Universo na mitologia Hindu, tem o poder da visão. Cria espaço na consciência para que possa nascer a nossa natureza divina. Tem o poder da expansão infinita, da paz e equanimidade.A mãe indivisível, a grande origem vinda do espaço cósmico de onde nasce a luz. Mãe do sol. È a Mãe terra ou Bhumi.

Bhairavi ou Durga
Deusa guerreira representa o calor do fogo, da transformação que destrói todas as limitações e ilusões da existência egóicas. Representa o poder primal da energia divina através da transformação pelo esforço. Durga é aquela que remove as dificuldades.


Chinnamasta
Chinmasta representa uma deusa sem cabeça com duas espadas jorrando sangue, isso representa o puro extase do corte de toda dualidade tanto psíquica como energética. A Deusa que abre a mente para o acesso à consciência niversal. Liberta-nos das limitações da mente. É a Yoga Shakti. Revela o infinito além das formas. Representa a Kundalini, distribuindo energia elétrica através de todos os nadís do corpo.
.

Dhumavati

O espírito da grande mãe, Deusa mais antiga na mitologia Hindu, guia ncestral, revela as profundezas do desconhecido e tem o poder de destruir todos os ensinamentos.Presente na forma de sonhos, perda de memória, ilusão, entre os yogis ele a é o poder que destrói todos os pensamentos, a própria iluminação (samadhi). Em sânscrito dhuma significa fumaça. O conhecimento que é adquirido através de experiência. Revela o princípio feminino da negação em todos os aspectos, inclusive representando a pobreza, a destituição e sofrimento. Revela as imperfeições, tristezas, perdas e angústias, aspectos negativos de nossa existência, para que possamos transcendê-los.

Bagalamukhi

O poder feminino cósmico da Deusa hindu que paraliza, controla e conquista todas as coisas com sua beleza hipnótica. Oferece o poder da fala e das conclusões finais para o sucesso em negócios. Sua força de paralizar traz autoconhecimento, a sabedoria e fala é um aspecto manifesto da Shaktí.

Matangi

Deusa hindu responsável pela origem da verdadeira compreensão capaz de formar pensamentos poderosos. É a grande Mãe no sentido da maturidade e sabedoria  é uma aspecto de Saraswati e Tara mais maduro e profundo.
ra, Matangi representa a palavra dita enquanto


Bhairavi é a deusa da fala transcedental e não manifestada. Também representa a forma de falar que verna as idéias colocadas em palavras a partir do processo de pensamento. Está relacionada a Sarasvati, a deusa da sabedoria e consorte de Brahma, o criador do universo, e como ela exerce um papel sobre a música e sons audíveis além da palavra a, expressões da criatividade.
Bhairavi é a consorte de Bhairava, a forma irada de Shiva.

Kamalatmika 
É a beleza revelada em toda sua glória. Representa a natureza divina e sua manifestação no  mundo físico através da luz, amor e beleza
 Em sânscrito Kamala significa lótus. E como a flor que tem sua raiz na lama Kamala lembra que a beleza da alma emerge do corpo físico grosseiro e nos suporta na elevação da alma 

Cada uma dessas Shaktis possui seus mantras, vidyas ou seja, segredos e formas de acessar a esses aspectos ensinados nos Tantras, por um guru.

Os Tantra usam os mantras para acessar, atrair e despertar o poder da Shaktí tanto fora quanto dentro criando uma conexão entre esses dois aspectos da Shaktí, interno e espiritual, mantra são sons com vibrações especificas que geram resultados específicos.
Cada mantra gera ou atrai uma forma da Shakti ou Shiva, atuando na mente e no campo vibratório, cada Divindade do Tantra é um aspecto da consciência cósmica universal e também individual no campo total da consciência muito além do plano de consciência do ego, ahamkara.
            O Mantra cria esse link, essa conexão, através de sua repetição e uso adequado com vários procedimentos para seu uso , através do uso do mantra em vários tipos de sadhanas, praticas o praticante, chamado sadhaka se apropria tanto da Shaktí universal quanto interior e usa vários elementos, tais como yoga, mudrás, rituais de fogo ( homa ou yajna ) para o despertar da kundaliní e samadhí.
            Os Yantra são a forma geométrica do mantra, representando geometricamente o devata ou forma da divindade expressa pelo mantra.

Para mais detalhes leiam nosso artigo no blog, Mantra e Yantra.




Vama Marga

Swami Satyananda , discípulo de Shivananda e estudioso do tantra fala em seus artigos como a repressão sexual tem criado uma sociedade de hipócritas. Isso levou amilhares de jovens em manicômios. Quando você quer alguma coisa que você acha que é ruim, todos os tipos de complexos de culpa surgem. Este é o início da esquizofrenia, complexos, traumas, frustações e todos assim podem se tornar esquizofrénicos.

Por isso, os iogues têm tentado dar uma direção correta para a impulsos sexuais. O Yoga tântrico não interfere com a vida sexual. Vida sexual normal não é nem espiritual nem anti-espiritual. Mas se você está praticando yoga e ter dominado as técnicas certas, então a vida sexual se torna espiritual. Claro, se você está levando uma vida celibatária, que se torna espiritual também.

De acordo com o tantra, a vida sexual tem uma finalidade tríplice. Alguns praticam para a procriação, outros por prazer, mas as práticas tântricas iogue de para samadhi. Ele não detém quaisquer opiniões negativas sobre ele. Ele faz isso como parte de sua sadhana. Mas, ao mesmo tempo ele percebe que para fins espirituais, a experiência deve ser mantida. Normalmente esta experiência é perdida antes um é capaz de aprofundá-la. Ao dominar as técnicas certas, no entanto, esta experiência pode se tornar contínua, mesmo na vida diária. Em seguida, os centros silenciosos do cérebro são despertados e começam a funcionar todo o tempo.

O princípio de energia

A contenção de Vama marga é que o despertar da kundalini é possível através da interação entre homem e mulher. O conceito por trás deste segue as mesmas linhas que o processo de fissão e fusão descritos na física moderna.

O homem e a mulher representam a energia positiva e negativa. Em um nível mental eles representam tempo e espaço. Normalmente, estas duas forças estão em pólos opostos. Durante a interação sexual, no entanto elas se movem para fora da sua posição de polaridade em direcção ao centro. Quando eles se juntam no núcleo ou ponto central, uma explosão ocorre e o despertar acontece. Este é o tema básico da iniciação tântrica em vamachara.

O evento natural que ocorre entre homem e mulher é considerada como a explosão do centro de energia. Em cada partícula de vida, é a união entre os pólos positivo e negativo, que é responsável pela criação. Ao mesmo tempo, a união entre os pólos positivo e negativo também é responsável pela iluminação, e a experiência que ocorre no momento da união é um vislumbre da maior experiência.

Este assunto tem sido amplamente discutido em todas as antigas escrituras do tantra.Na verdade, as ondas de energia que são criadas durante a união mútua não são tão importantes como o processo de dirigir essa energia para o centro mais elevado. Todo mundo sabe como essa energia é para ser criada, mas ninguém sabe como direcioná-lo para os centros superiores. Na verdade, muito poucas pessoas têm um entendimento completo e positivo desse evento natural que todo mundo quase neste experiências do mundo. Se a experiência conjugal, que é geralmente muito transitória, pode ser prolongada por um período de tempo, então a experiência da iluminação teria lugar.

Bindu significa um ponto ou uma gota, No tantra, bindu é considerado o núcleo, ou a morada da matéria, o ponto a partir do qual toda a criação se torna manifesto. Na verdade, a fonte de bindu é nos centros superiores do cérebro. Mas, devido ao desenvolvimento de emoções e paixões, bindu cai para a zona inferior, onde ele é transformado em espermatozóides e dos óvulos. No nível mais alto, bindu é um ponto.No nível mais baixo, que é uma gota de líquido que escorre a partir do orgasmo masculino e feminino.

De acordo com o tantra, a preservação do bindu é absolutamente necessária por duas razões. Em primeiro lugar, o processo de regeneração pode ser efectuada apenas com a ajuda de bindu. Em segundo lugar, todas as experiências espirituais ocorrem quando há uma explosão de bindu. Esta explosão pode resultar na criação de um pensamento ou de qualquer coisa. Portanto, no tantra, certas práticas são recomendadas pelo qual o parceiro masculino pode parar a ejaculação e manter o bindu.

De acordo com o tantra, a ejaculação não deveria ocorrer. Deve-se aprender a parar.Para este efeito, o parceiro deve aperfeiçoar as práticas de vajroli mudra bem como moola bandha e bandha uddiyana. Quando estes três kriyas são perfeitos, um é capaz de parar a ejaculação completamente em qualquer ponto da experiência.

Ejaculação não é evitada devido à perda em termos de estrutura química do sémen, mas uma vez que reduz o nível de energia. O acto sexual culmina numa experiência particular que é alcançado apenas no ponto de explosão de energia. A menos que a energia explode, a experiência não pode ter lugar. Mas a experiência tem que ser mantida, de modo que o nível de energia continua a ser elevada. Quando o nível de energia cai, ejaculação. Assim, é evitada a ejaculação, não tanto para preservar o esperma, mas porque provoca uma depressão no nível de energia.

Para fazer esta viagem para cima de energia através da espinha, kriyas yoga certos hatha tem que ser dominado.

A experiência, que é concomitante de energia tem que ser aumentados para os centros superiores. Só é possível fazer isso se você é capaz de manter essa experiência. Enquanto a experiência continua, você pode direcioná-lo para os centros superiores. Mas logo que o nível de energia sofre uma depressão, ejaculação ocorrerá.
Ejaculação faz baixar a temperatura do corpo e, ao mesmo tempo, o sistema nervoso sofre de depressão. Quando os sistemas simpático e parassimpático sofrem de depressão, que afeta o cérebro. É por isso que muitas pessoas têm problemas mentais. Quando são capazes de reter o sémen sem ejacular em tudo, a energia no sistema nervoso e a temperatura em todo o corpo são mantidas. Ao mesmo tempo, você está livre do sentimento de perda, depressão, frustração e culpa. Retenção também irá ajudar a aumentar a frequência sexual, e que é melhor para ambos os parceiros. O ato sexual não tem que criar fraqueza ou dissipar a energia, ao contrário, pode se tornar um meio de explodir a energia. Portanto, o valor de retenção o bindu não deve ser subestimado.

Em hatha yoga há certas práticas que devem ser aperfeiçoadas para este fim. Você deve começar com asanas como paschimottanasana, shalabhasana, Vajrasana, Vajrasana Supta e siddhasana. Estes são benéficas, já que colocar uma contração automática dos centros inferiores. Sirshasana é também importante porque ventila o cérebro, de forma que todos suas experiências serão experiências saudáveis. Quando essas posturas foram dominados, shambhavi mudra é aperfeiçoada a fim de manter a concentração constante na Bhrumadhya. Então vajroli mudra tem que ser praticado em conjunto com moola bandha e uddiyana bandha em kumbha( retenção da respiracao ) com a prática de kumbhaka é necessária enquanto a ejaculação está sendo realizada. Retenção da respiração e do bindu andam de mãos dadas. Perda de kumbhaka é a perda de bindu, e perda de bindu é a perda de kumbhaka.

Durante kumbhaka, quando você está mantendo a experiência, você deve ser capaz de direcioná-lo para os centros superiores. Se você é capaz de criar um arquétipo desta experiência, talvez oi a forma de uma serpente ou uma continuidade luminosa, então o resultado será fantástico. Então, na vida espiritual, bindu deve ser preservado a todo custo.


A experiência feminina

No corpo da mulher, o ponto de concentração é em mooladhara chakra, que está situado no colo do útero, mesmo atrás da abertura do útero. Este é o ponto em que o espaço e tempo unir e explodir na forma de uma experiência. Essa experiência é conhecida como orgasmo na linguagem ordinária, mas na linguagem do tantra ela é chamada um despertar. De modo a manter a continuidade da experiência que é necessário para uma acumulação de energia ocorra no que bindu particular ou ponto.Normalmente isto não acontece, porque a explosão de energia dissipa-se por todo o corpo por meio sexual. A fim de evitar isso, a mulher deve ser capaz de manter sua mente em concentração absoluta neste ponto particular. Por isso, na prática é conhecido como Sahajoli.

Na verdade, é Sahajoli concentração no bindu, mas isso é muito difícil. Assim, a prática da Sahajoli, que é a contracção da vagina, bem como os músculos uterinos, deve ser praticado por um longo período de tempo.

Se as meninas são ensinadas uddiyana bandha em tenra idade, eles vão aperfeiçoar Sahajoli naturalmente com o tempo.

Uddiyana bandha é sempre praticado com retenção externa. É importante ser capaz de executar esta em qualquer posição. Normalmente, é praticada em siddhasana, mas deve ser capaz de fazê-lo em Vajrasana ou a postura corvo também. Quando você pratica uddiyana bandha, as outras duas bandhas - jalandhara e moola bandha ocorrem espontaneamente.

Anos desta prática criarão um aguçado senso de concentração no ponto correto do corpo. Esta concentração é mais de natureza mental, mas, ao mesmo tempo, uma vez que não é possível fazê-lo mentalmente, tem de se iniciar a partir de um ponto físico.Se uma mulher é capaz de se concentrar e manter a continuidade da experiência, ela pode despertar sua energia para um nível elevado.



De acordo com o tantra, existem duas diferentes áreas de orgasmo. Um deles é, na zona nervoso, que é a experiência comum para a maioria das mulheres, e o outro está em mooladhara chakra. Quando Sahajoli é praticado durante o maithuna, chakra muladhara acorda eo orgasmo espiritual ou tântrico ocorre.

Quando o yogi fêmea, a yoginí, é capaz de praticar Sahajoli para dizer 5 a 15 minutos, ela pode manter o orgasmo tântrico pelo mesmo período de tempo. Ao manter esta experiência, o fluxo de energia é invertida. Circulação de forças de sangue e simpático / parassimpático mover para cima. Neste ponto, ela transcende a consciência normal e vê a luz. É assim que ela entra no profundo estado de dhyana. A menos que a mulher seja capaz de praticar Sahajoli, ela não será capaz de manter os impulsos necessários para o orgasmo tântrico, e conseqüentemente ela terá o orgasmo nervoso, o que é de curta duração e seguido por insatisfação e exaustão. Isso é muitas vezes a causa de histeria de uma mulher e depressão.




Então, Sahajoli é uma prática muito importante para as mulheres. Em uddiyana, Nauli, naukasana, Vajrasana e siddha yoni asana, Sahajoli vem naturalmente.


Dessa forma, a experiência sexual tântrica é totalmente diferente para o homem e mulher, o orgasmo é totalmente necessário para a mulher no maithuna, pois é o que ocasiona a explosão da energia e a expansão da Shaktí, isso raramente foi ensinado por ser algo da tradição vamachara e muitos homens criaram outra forma de repressão novamente da energia sexual feminina, usando o tantra ainda por cima, o homem deve reter e a mulher concentrar, e isso deve ser corretamente aprendido com o guru tântrico.

O Sahajroli posteriormente migrou para outros paises do oriente e hoje parte de suas tecnicas são chamadas Pompoarismo, são tecnicas muito importantes para se conseguir o orgasmo tantrico feminino.


Yoní Puja

            Yoní quer dizer vagina em sânscrito e o pênis é chamado Lingam, o yoní puja é a adoração a Yoní, não no sentido comum, como órgão físico, más no sentido de ser uma expressão física orgânica da Shaktí, do útero, da energia criativa da vida, representando o assento, local da Deusa e também ao mesmo tempo do gozo mundano, o yoni pujá é uma adoração a vulva para sacralizar, transmutar e se conectar a essa energia através desse asana, peetha ou local sagrado no ritual devidamente ensinado e transmitido de acordo com os segredos do tantra. O yoní pujá não tem nada haver com estimulação sexual com aparelhos, luvas, cremes em casas de massagens, é um ritual onde mantras, flores, velas, incenso, fogo, mantras e stotrans são realizados numa puja belissima e sagrada, tornando o ato e o lugar de adoração, a vagina, a mais elevada expressão da Deusa.


 

Panchamakara



“O vinho é Shakti, a carne é Shiva. Aquele (adepto) que desfruta de ambos é o próprio Bhairava.“ Kularnava Tantra cap. V, verso 79

Swami Samarpananda explica sobre o Panchamakara o seguinte :

O Kularnava Tantra declara:
 “Se Siddhis (2) fossem obtidos por beber vinho, todos os bêbados caídos os teriam obtido. Se somente o consumo de carne levasse ao mérito religioso então todos os comedores de carne partilhariam do mérito; se o ato sexual, Oh Grande Deusa, pudesse resultar em Moksha então todos os seres seriam liberados pela virtude deste ato” !


         
"O MahaNirvana Tantra explica os Pancha Makaras (5 Ms) como representantes dos cinco grandes elementos da natureza. Portanto o vinho representa o fogo; o peixe, a água; a carne o ar; as frituras a terra; e a cópula o éter. Ao oferecer estes à Mãe Divina, o adepto está na verdade adorando-A através de seus elementos criadores. Os aspirantes com temperamento animal (3) são extrovertidos e movem-se de acordo com a “corrente de exteriorização”, acumulando mérito e demérito (4) através das atividades mundanas. Eles ainda não se elevaram sobre o senso comum das convenções, nem cortaram as três amarras do “ódio, medo e vergonha” (5). Movidos pela paixão, eles são escravos das emoções: desejo, ambição, orgulho, ira, ilusão e inveja. Estes Sadhakas não são autorizados nem sequer a tocar os cinco ingredientes do ritual da mão esquerda. (6)
       


Os aspirantes competentes para o arriscado ritual que usa os 5 Ms são chamados de “Vira” (7) . Eles tem a força interior para “brincar com o fogo” e queimar seus vínculos mundanos através dele. A Sadhana Tantrica no modo Vira, heróico, involve manter o próprio equilíbrio mesmo quando confrontado por objetos que incitam a ambição e o desejo. Estabelecidos num completo auto-controle, eles não se esquecem de si mesmos, mesmo nas circunstancias mais tentadoras. Ele tem um temperamento corajoso que inspira terror àqueles que cultivam tendências animais. Puros em seus motivos, gentis em sua fala, fortes em seus corpos, capacitados, corajosos, inteligentes, intrépidos e humildes, eles cultivam apenas o que é bom. “



Assim, podemos compreender que o uso dos Cinco Ms não tem nada haver com magia negra, sexo pra prolongar o prazer, massagem erótica ou uma boa transa, um homem não precisa de subterfúgios místicos pra fazer amor com uma mulher, um bom restaurante, bom vinho e boa musica podem suprir isso, o ritual é algo para o espiritual , para transmutar o ato comum com uma mulher ou parceiro em algo que transmute todos esses elementos comum num estado místico de Yoga, união com a Shaktí.

Tantra e Yoga

            Como vimos acima o Yoga pode ter uma linha tântrica, vedanta ou Shaiva, esse foi um aspecto que também não foi muito bem explicado, o Hatha Yoga é em sua origem totalmente tântrico, más isso se perdeu quando se começou a abordar o hatha apenas como exercício, posturas ou asanas. Essa distorção é devido ao choque cultural entre ocidente e oriente, ou mesmo entre a população média da Índia que não teve como expor ou compreender todos os ensinamentos em sua totalidade.

            Na modernidade essa confusão se acentuou bastante, só que, em realidade o Hatha yoga só é completo quando compreende sua função, que é purificar o corpo físico e energético para a experiência e o despertar da Kundaliní, sem esse entendimento, hatha yoga se torna mera ginástica e contorcionismo.


Kundaliní e Samadhí.

Swamí Satyananda Saraswati, da bihar school nos diz :

“Quando Shakti Kundalini chega a sahasrara, isto é conhecido como "união entre Shiva e Shakti”. Sahasrara é descrito como a morada de uma maior consciência ou Shiva. A união entre Shiva e Shakti marca o início de uma grande experiência. Quando esta união ocorre, o momento da auto-realização ou samadhi começa. Neste ponto o homem individual morre. Não quero dizer que a morte física ocorre, é a morte da consciência individual ou consciência mundana. É a experiência da morte de nome e forma. Neste momento você não se lembra do 'Eu', o 'você'ou o 'eles'. O conhecimento, o conhecedor e o conhecido tornam-se um e o mesmo. O observador, o observado e a observação são fundidos e visto como um todo unificado. Em outras palavras, não existe uma consciência dupla ou múltipla. Existe apenas uma consciência.

Quando Shiva e Shakti unem-se, nada resta, não é absoluto silêncio. Shakti não permanece Shakti e Shiva não é mais Shiva, ambos são misturados em um e eles já não podem ser identificados como duas forças diferentes.


Cada sistema místico e religioso do mundo tem sua própria maneira de descrever esta experiência. Alguns a chamam de nirvana, outros - samadhi, kaivalya, auto-realização, iluminação, comunhão, o céu e assim por diante. E se você ler os poemas religiosos e místicos e as diversas escrituras das culturas e tradições, você encontrará uma ampla descrição de sahasrara. No entanto, você tem que lê-las com um estado diferente de consciência para compreender as simbologias e terminologias esotéricas.



Raja Yoga, Kundalini e samadhi

"No Yoga Sutras de Patanjali você não encontrará a palavra Kundalini, uma vez que este texto não tratam diretamente de Kundalini Yoga. No entanto, nem todos santo, Rishi ou professores se referiram a Kundalini com este nome. Kundalini é matéria subordinada ao tantra. Quando Patanjali escreveu o Yoga Sutras 2600 anos atrás, foi durante o período de Buda e cerca de quatro séculos antes da era dos grandes filósofos. Nessa altura, o tantra tinha uma péssima reputação na Índia porque os dons de Kundalini, os siddhis, estavam sendo utilizados de forma abusiva para fins mesquinhos e as pessoas estavam sendo exploradas. Portanto, a terminologia tantra e Tântrica teve de ser suprimida, a fim de manter o conhecimento vivo, uma linguagem totalmente diferente teve de ser aprovada.

No Raja Yoga de Patanjali, a ênfase é colocada sobre o desenvolvimento de um estado chamado samadhi. Samadhi atualmente significa consciência supermental. Primeiro vem a consciência sensual, em seguida a consciência mental e, acima desta, a consciência supermental, a consciência de seu próprio Eu. A percepção das formas, sons, tato, paladar, olfato, é a consciência dos sentidos. A consciência do tempo, espaço e objeto é a consciência mental. A consciência supermental não é um ponto; é um processo, um leque de experiências. Assim como o termo 'infância' refere-se a um vasto espaço de tempo, da mesma forma, samadhi não é um ponto específico da experiência, mas uma seqüência de experiências que graduam de uma fase para outra.
Portanto, Patanjali classifica samadhi em três categorias principais. O primeiro é conhecido como savikalpa samadhi, isto é, samadhi com flutuação, e tem quatro fases - vitarka, vichara, ananda e asmita. A segunda categoria, asampragyata, é samadhi sem consciência, e a terceira categoria, nirvikalpa, é samadhi sem qualquer variação.

Estes nomes indicam apenas o estado determinado em que sua mente está durante a experiência de samadhi. Não obstante, a erosão da consciência mental não ocorre de repente, a consciência normal não chega a um fim de forma abrupta. Existe um tipo de desenvolvimento de sensibilização e de erosão do outro. A consciência normal desvanece-se e desenvolve a consciência mais elevada e, portanto, há uma interação paralela entre os dois estados.
Onde é que termina a meditação e onde é que samadhi começa? Você não pode identificar porque existe uma interposição. Onde está o fim da juventude e o início da terceira idade? A mesma resposta se aplica. E a mesma coisa acontece em samadhi também. Onde é que está o final de savikalpa samadhi e o início de asampragyata? Todo o processo ocorre em continuidade, em cada etapa da próxima fusão e transformando-se de uma forma muito gradual. Isto parece lógico quando você considera que é a mesma consciência que está sofrendo a experiência.
No tantra diz-se que, quando Kundalini ascende através dos vários chakras, a experiência que a pessoa tem não pode ser transcendental ou divino em si, mas são indicativos da evolução da natureza da consciência. Este é o território do savikalpa samadhi, por vezes iluminação e, por vezes, escuro e traiçoeiro.

De muladhara até ajna chakra, a consciência está experimentando coisas maiores, mas não está livre do ego. Você não pode transcender o ego na parte inferior dos pontos do despertar. Só quando Kundalini chega a ajna chakra que começa a transcendência. Este é o lugar onde o ego esplode em um milhão de fragmentos e a consequente experiência da morte ocorre. Neste ponto savikalpa acaba e começa nirvikalpa. A partir daqui, as energias se fundem e fluem juntas até sahasrara, onde se desdobra a iluminação.

No tantra, sahasrara é o ponto mais alto da consciência, e no Raja Yoga de Patañjali, o ponto mais alto da consciência é nirvikalpa samadhi. Agora, se você comparar as descrições de sahasrara e nirvikalpa samadhi, você vai achar que eles são os mesmos. E se você comparar as experiências de samadhi descritos no Raja Yoga com as descrições do despertar de Kundalini, você vai descobrir que eles também são os mesmos. Importa igualmente referir que ambos os sistemas de falar sobre os mesmos tipos de práticas. Raja Yoga é mais intelectual, no seu modo de expressão e é mais em sintonia com a filosofia, e tantra é mais emocional na abordagem e na expressão. Essa é a única diferença. Tanto quanto eu posso compreender, o despertar de Kundalini e samadhi são a mesma coisa. E se você compreender os ensinamentos de Buda e os outros grandes santos e professores, você vai descobrir que eles também falaram a mesma coisa, mas em diferentes línguas.”


Kundalini Tantra, Satyananda Saraswati


Existem no tantra inúmeras formas de despertar a kundaliní, Japa de mantras, yoga, vamachara e vários dhyanas para isso ( meditações ) sendo que Vama e Kriya Yoga são os mais poderosos métodos.

Kriya Yoga

Kriya Yoga é a parte avançada do Yoga, que usa técnicas de ativação dos chakras através de vários recursos meditativos para o mais auto despertar.

Kriya quer dizer ação e no hatha yoga existem Kriyas purificatórios, más não é desses que estamos falando, embora façam parte para a base da limpeza de purificação, o Kriya yoga do kundaliní Yoga é a parte superior disso.

Grandes mestres como Yogananda trouxeram o Kriya Yoga para o ocidente, discípulo de Lahiri Mahasaya, ele ensinou de forma muito pura essas poderosas técnicas para o despertar , más não falou muito sobre os outros aspectos do tantra devido claro a seu publico, Estados Unidos nos anos 70, ele fez um grande trabalho, imenso, mesmo assim, deixando as técnicas o mais pura possíveis, e ensinando com base na filosofia Vedanta.

Como vocês podem comprovar com essa informação, o Tantra não é algo rígido, o ato sexual não é algo determinante, Swami Yogananda da Self , que escreveu o livro Autobiografia de um Yogi, era um swamí, um celibatário, e seguia a filosofia vedanta, más mesmo assim praticou e ensinou uma das técnicas tântricas mais poderosas para o despertar da Shaktí, o Kriya Yoga.


O primeiro exercício do Kriya Yoga é a pratica do Mantra So-ham, devidamente ensinada e transmitida pelo guru, So Ham quer dizer Eu Sou, e busca a integração entre a respiração, a consciência, e a divina presença do Eu Sou no sadhaka ( praticante )





Kundaliní e chakras


Kunda significa fenda, buraco, vaso na terra e liní significa enroscada, a Kundaliní é a energia enroscada na base de nossa coluna como um potencial energético adormecido, a Shaktí.
Enquanto o prana circula livremente por canais de energia, linhas energéticas chamadas Nadís ( fluxos ) em nosso corpo energético e claro, atuando no corpo físico, temos uma reserva imensa de energia bio-vital e espiritual em polarização com uma imensa quantidade de consciência potencial, Shiva.
As nadís se dividem no corpo em duas polaridades, Ida no lado esquerdo positiva, e Pingala no lado direito, negativa, no centro da coluna, em estado inativo durante o estado de vigília, acordado, está Sushumná, o canal central, em nossa natureza psicofísica está adormecida a Kundaliní, que pode ser despertada a subir pelos canais, se sobe pelo canal central gera a experiência do samadhí em união com Shiva, a consciência mais alta.
Temos sete pontos onde esses nadís se cruzam, eles formam os chakras, vocês leitores poderão estudar cada um dos chakras em nosso blog, baseados nas explicação de Swami Satyananda.

Guru Tantrico


            Guru é o mestre, quer dizer pesado, e é aquele que transmite o dharma , seja ele qual dharma for para o buscador, o estudante.
Esse é outro aspecto que causa muito mal estar e é muito cheio de abusos no ocidente, pois existem dois aspectos problemáticos. Um é o estudante que acha que o guru deve ser um deus perfeito e santo baseado em suas crenças e não entende que é um ser humano, sujeito a erros e pode se frustar com isso, os tantras e vedas realmente dizem que o guru é deus, más não no sentido absoluto, e sim como um transmissor dos ensinamentos divinos, deve ser honrado por isso, más é um meio, não a meta.

            É justamente o que o guru deve fazer, transmitir, deeksha quer dizer isso, transmissão, iniciação, onde o guru transmite o mantra, o conhecimento, a experiência e sua shaktí.
            Existem e existiram homens que se aproveitaram desse status para explorar, enriquecer ou abusar de pessoas e isso se tornou uma motivação para que a figura do guru fosse muito difamada em alguns meios ocidentais, más isso é um grande erro, não se pode difamar e desprezar todos os homens pelo erro de uns poucos, procure um bom guru e seja um bom discípulo e então a deeksha será muito positiva e benéfica para seu caminho.

            A melhor maneira de entender o que deve ser um guru é comparar ao sensei, o mestre de artes marciais, muitos dizem não precisar de um guru, más me digam, você conseguiria aprender artes marciais sem um bom mestre? Apenas por livros? Um bom sensei não precisa ser perfeito e santo, apenas ser sério, honesto e saber ensinar e ser bom no que sabe e faz, lutar! Da mesma forma é o guru, se ele domina os mantras, conhece as escrituras, pratica, é honesto e vivenciou a sabedoria que ensina, esse é o verdadeiro guru.

            No tantra o guru é essencial, más do que em todos os dharmas, pois é uma pratica que exibe riscos, o risco é lidar com energias que podem ampliar muito os estados alterados de consciência, e para isso, é preciso estar seguro, no inicio pode parecer difícil más quando o discípulo está pronto, o mestre aparece.

            Escrevemos esse texto para explicar introdutoriamente o que realmente é o Tantra, más é uma ciência tão profunda, rica e complexa que apenas muito estudo e pratica podem levar a um perfeito entendimento. um bom exemplo de guru Tantrico, Ramakrishna Paramahamsa, que conseguiu unir em um dialogo profundo e pratico o tantra, bhakti, vedanta e yoga.





            Busquem um bom templo, uma boa escola, uma iniciação, deeksha e não caiam no conto comercial de orgasmo fácil, prazer lúdico, sexo com incenso apenas e e acreditar que isso é Tantrismo. 

Um incenso é muito barato e não precisa pagrar centenas de dólares pra ter uma experiência erótica, o samadhí é a meta da vida espiritual, é o extase de várias tradições e o tantra apenas colocou isso em forma técnica e profunda, isso é algo que se aprende para  vida toda, se pratica a vida toda, e não está limitada a uma experiência numa salinha fechada.

Com Prema e Bhavana, 

Jaya Maa
Sri Amrtanandají R. Nath





3 comentários:

  1. Poucas vezes, pude ler um artigo com tanta clareza.

    Excelente, Parabéns e Obrigado!
    Namastê!

    ResponderExcluir
  2. Só lembrando que o tantra é algo sagrado uma religião. Não é pra ser usado para depravação. Se a pessoa quiser ser ativa que seja com seu homem ou com sua mulher. E acompanhado do puro amor.

    ResponderExcluir